Um estudo recente do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, mostra que 70% dos jovens portugueses apresenta sinais de dependência das novas tecnologias. Eu diria que estes resultados são assustadores! Estaremos nós (pais e adultos) a criar uma geração cada vez mais dependente do digital? E estaremos nós conscientes das implicações desta dependência no desenvolvimento físico, afectivo e cognitivo da criança? Estaremos nós a substituir a nossa presença física pela comunicação via smartphone e tablets? Até que ponto estes aparelhos não se estão a tornar as novas chuchas das nossas crianças e jovens?
Julgo que se todos estivéssemos conscientes das implicações na sua utilização excessiva, muitos dos pais e adultos não permitiriam o excesso de utilização da tecnologia por parte da criança.
Basta observar as crianças que nos rodeiam no nosso dia-a-dia, e julgo não ser necessário sermos técnicos, para reconhecer como elas estão cada vez mais isoladas (jogam solitariamente com o smartphone, tablet ou playstation), mais agressivas e menos relacionais (com poucas interacções face a face com os pares).
Compreendo que a tecnologia seja um bom aliado dos pais para manterem a criança entretida e sossegada durante umas horas. Mas ao permitir que isto aconteça como regra de funcionamento, estamos a privar a criança de desenvolver uma série de recursos que serão fundamentais para o seu desenvolvimento físico, cognitivo e social da criança.
O brincar estimula todos os sentidos, ajuda a desenvolver a mente e o corpo, para além de permitir uma descarga natural para os pensamentos e sentimentos da criança, essencial para a sua auto-regulação. O brincar permite que a criança deixe fluir as suas fantasias e aguce a sua imaginação, permitindo-lhe desta forma expor as suas emoções e estimular a sua criatividade. A criança que não brinca, é uma criança emocionalmente e/ou intelectualmente doente.
Promover a utilização excessiva destes aparelhos tecnológicos, faz com que estejamos a estimular a memória visual da criança, muitas vezes em detrimento de outro tipo de concentração e atenção para outras tarefas que, por exemplo, a leitura vai requerer para a interpretação de um texto. Se lhes damos maioritariamente estímulos simples, que são percebidos rapidamente, quando quisermos que se concentrem para aprender a escrever e a ler, já não vão estar tão motivados para essas tarefas mais exigentes. A satisfação não é tão imediata como num jogo digital. Talvez não seja por acaso que têm surgido tantos casos de crianças com défice de atenção e concentração e dificuldades de aprendizagem.
Contudo, não creio que devamos diabolizar estas tecnologias. Vivemos numa era digital! É importante que as nossas crianças e jovens saibam usá-las com facilidade e mestria, pois serão cada vez mais ferramentas fundamentais para o ensino e aprendizagem, bem como para a sua vida profissional futura.
O ponto crítico está na dose e na forma como utilizamos estes equipamentos. Diria que é desejável que as crianças saibam usar estas tecnologias mas com conta, peso e medida e de forma controlada e supervisionada pelos pais, não permitindo o acesso a conteúdos impróprios para a sua idade. Fundamental é mesmo que o seu uso não se transforme em abuso e que, desse modo, substituam as relações pessoais e afectivas.